Para onde você sente que está indo?

No ritual de programar as férias, a gente estica a estrada do sonhar. Conversei com uma especialista em turismo na Patagônia. Depois outra pessoa que conhece bem Galápagos. A ideia da América do Sul ser vista pelas crianças me agrada. Finalmente, decidi entrar em contato com uma amiga querida para saber das possibilidades de irmos ao Beach Park. Melhor programa com as crianças: desviar da rota do inverno e pegar um sol, pegar uma piscininha, pegar um tobogã, pegar duzentas e vinte tapiocas, que são deliciosas. É isso. Agora é comprar as passagens aéreas. Hoje não, que tem festa na escola. Amanhã. Hoje não, que tem aniversário do amigo de Joaquim. Amanhã. Hoje não, porque tem consulta médica. Amanhã. Hoje, de tanto virar amanhã, foi ontem. A passagem está mais cara para Fortaleza do que para Miami. Como nunca torturei ninguém, não vejo sentido em ir a Miami. Zera o jogo.

E se fôssemos de carro até o Rio? – Lua dispara.

Para em Brumadinho, visita Inhotim, segue a estrada, visita Carol Brasil, visita mais gente querida por lá, chopp na Urca, bondinho com as crianças, Arpoador qualquer hora, sobe o Vidigal para visitar a escola, Santa Teresa, zona norte, bora. Na volta, quem sabe, podemos subir para São Paulo pela litorânea, chegar na capital direto para o colo da avó e mãe Lydia, dias de amor, dias de férias. Faz sentido. Falta só fazer uma revisão no carro, hoje mesmo eu levo. Eita, hoje não, que tem treino de Teresa, consulta de João, amiga de Irene em casa, Joaquim deve fazer natação porque a professora faltou aula passada. Amanhã.

De amanhã em amanhã, o hoje vai ganhando um cheiro agridoce de urgências e calmas, o relevo é montanhoso e as curvas são inúmeras nessa estrada que desejamos esticar. Se você me perguntar, hoje, para onde vamos, finalmente, eu vou responder: amanhã.

Isso tudo para fazer um breve resumo do manual do caminhante ao acaso, aquele que admira a conversa entre Galeano e Birri, a utopia desenhada para quem gosta de palavras criadoras de imagem. Fica o desejo vivo de ir, de seguir, ainda que o horizonte se afaste. Isso tudo para trazer uma pergunta que espero que você me responda com um áudio ali no meu WhatsApp, topa?

A pergunta não é sobre férias.
É sobre a vida.
Sei que você já sabia disso, desculpe.
A pergunta é: finalmente, para onde você sente que está indo?

Pedro Barros Fonseca

pedro fonseca

pai de João, Irene, Teresa e Joaquim.

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