As respostas também chegam.

Você leu a carta de ontem (#5)?
Ela está
aqui.
Tenho convicção de que pouca gente leu, por conta do feriado.
Me chama a atenção, entretanto, três respostas que chegaram menos de duas horas depois de eu ter enviado. Não pedi autorização para as pessoas, mas partilho abaixo alguns trechos de cada uma delas, cuidando de preservar a identidade de quem me enviou. Peço licença.

Resposta 1 (trecho):
"Meu grande e querido amigo, à medida que eu lia algumas das suas fantáticas realizações no trabalho, me dei conta de que vivi algumas delas de perto, vendo vc trabalhar. [...] e aí penso que a vida é mesmo boa, nos presenteia com quem nos ensina e está disposto a aprender. E vejo que isso É a sua existência, É a sua escolha. Obrigada por isso!"

Resposta 2 (trecho):
"[...] senti daqui a dor do casulo e de nao caber, de perceber as asas encolhidas. [...] se puder desejar algo, desejo que tu retome esse tanto de coisa massa que tu faz, que não se encolha nunca mais."

Resposta 3 (íntegra):
"Você é suficiente, Pedro."

Agradeci às três pessoas. E inventei de reler a carta, coisa que nunca faço com textos meus, coisa que só mesmo um convite feito por três pessoas, das quais duas conheço pessoalmente e sei que me conhecem, poderia fazer. Fui lá, reli, senti um estranhamento danado ao reler a lista que mais parece um vômito de memórias que teimo em esconder, como tantas vergonhas outras que carrego.

Gosto de contar as histórias, mas não gosto de me ouvir contando, faz sentido para você?

O que mais me causou estranhamento foi o ângulo, o ponto de vista de onde estava relendo a lista de trabalhos e situações que o trabalho me trouxe. Parecia estar lendo a história de outra pessoa, tamanha a distância que se faz entre nós – este eu e aquele eu.

Na hora que fomos para a cama, comentei com Lua sobre esta sensação e ganhei um abraço gostoso de quem realmente acolhe o que você sente – ainda que não consiga sentir o que você está sentindo. Chorei um pouquinho pensando (e falando em voz alta) que esta é uma decisão: não quero fazer mil coisas ao mesmo tempo. Digo isso com uma gosma de privilégio escorrendo pelo canto da boca, mesmo sem saber se é viável. Mas esta precisa, agora, ser minha tentativa. Não quero, não desejo, não gosto da ideia de fazer essas mil coisas para provar a mim mesmo que sou capaz de algo, ou que sou melhor do que realmente sou, ou algo que o valha.

 À terceira pessoa que me mandou um email em resposta à minha carta # 5, ontem, já mandei um aviso que iria guardar seu nome, arroba e a frase "você é suficiente, Pedro" para o caso de um dia nos encontrarmos ao vivo – e, assim, eu poderia agradecer com um abraço tão gentil quando a resposta que ela me mandou.

A vida se encarrega de me colocar frente a frente com estas pessoas que me transformam. Isso eu já aprendi.

Pedro Barros Fonseca

pedro fonseca

pai de João, Irene, Teresa e Joaquim.

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