Acho estranho quem leva as crianças para ver o mundo.
O mundo se modifica quando vê crianças passeando por ele. Os olhos do Rio brilharam na chegada delas e deles na praia. Pareciam ter visto uma entidade da natureza viva e logo esticaram os morros para cercar o horizonte próximo, como quem coloca o corpo à disposição de um abraço para quem vem lá.
– Quem vem lá?, perguntou a primeira onda e logo afogou-se de volta, sendo engolida antes mesmo da resposta.
– É Irene!, disse uma; É João!, o outro; Teresa!, Joaquim!, falaram os dois menores.
A segunda onda ouviu seus nomes e pulou sobre suas cabeças, esfriando o corpo das crianças que nem sabiam que o sol tinha escolhido ficar mais tempo no alto para vê-las melhor, naquele dia. As nuvens esparsas e espaçadas fizeram de tudo para esconder o ciclone que vinha de São Paulo, sem querer anunciar chuvas ou outras alegrias. Era cedo, no dia seguinte, quando as árvores do Jardim Botânico fingiam já estar acordadas, quando na verdade tinham acabado de levantar, discretamente, enquanto as crianças ainda chegavam. Organizaram folhas, pentearam copas com o vento, alongaram troncos e se puseram desordenadamente organizadas como jardim – sabiam que os pequenos gostavam mesmo delas de pé, despertas e balançando o corpo para derrubar umas folhas secas. Nas ruas havia uma atmosfera gentil entre as plantas nas janelas que tentavam fugir das casas e as plantas das ruas que tentavam invadir as casas só por curiosidade mesmo. Todas paravam para ver as crianças passarem pela calçada – enquanto as flores desabrochavam em simpatia.
E assim o mundo ia vendo tudo, cada passo das crianças ocupando suas gramas, suas areias, subindo em seus galhos, pegando as frutas baixas, as flores envelhecidas que sorteavam pétalas sempre terminando em bem-me-quer. Não era janeiro, era Rio. E o mundo não disfarçava sua alegria em ver crianças.
Pedro Barros Fonseca